"Quer você acredite que pode ou que não pode, geralmente você está certo".

(Henry Ford)


____________________ TEA (Transtorno Espectro Autista)






sábado, 18 de outubro de 2014

Sem atendimento adequado, autistas são amarrados a camas em Alagoas


18/10/2014 08h09 - Atualizado em 18/10/2014 08h29


Falta de serviço especializado na rede pública dificulta o tratamento.
Psicóloga reconhece que atendimento não é o ideal, mas ressalta melhoras.


Lidar com os sintomas mais graves em pessoas com autismo, como a agressividade, é uma preocupação comum a muitas famílias que convivem com o transtorno. Em Alagoas, a situação fica mais difícil diante de uma estrutura de diagnóstico e tratamento ainda precária. Há poucos centros de atendimento específico na rede pública estadual e, em casos extremos, os pacientes vivem amarrados em uma cama ou trancados em um quarto.
Emerson passa a maior parte do dia amarrado na cama (Foto: Michelle Farias/G1)Adolescente passa a maior parte do dia amarrado na cama do abrigo. (Foto: Michelle Farias/G1)





É o caso de um adolescente de 14 anos que mora no Lar Santo Antônio de Pádua, localizado no Conjunto Village Campestre, no bairro Cidade Universitária, em Maceió. Ele é autista, morava com o irmão e o pai e passava a maior parte do tempo trancado no quintal de casa. Como o pai trabalha durante o dia e não tem como cuidar do garoto, ele foi para o abrigo.
“Ele já passou por vários psicólogos e psiquiatras e foi diagnosticado com o grau mais avançado da doença. Como não temos pessoas suficientes, ele fica amarrado para não tirar a própria vida. Ele é agitado e pode bater a cabeça na parede até sangrar. Sei que é triste, mas fazemos o possível. Ele toma medicações, mas ainda assim precisa ficar amarrado. Eles são atendidos pela rede pública, mas o atendimento é muito ruim, os médicos só passam remédios”, afirma Frei José, responsável pelo abrigo.
De acordo com o Frei José, as famílias dos autistas que estão no abrigo quase nunca aparecem. "A maioria nem recebe visita. O único que recebe é o adolescente que ficava trancado no quintal de casa, mas de uns tempos para cá o pai não está vindo muito. É muito triste porque os pais não sabem como lidar com a doença e aqui nós fazemos de tudo para que eles tenham conforto, carinho e segurança", afirma.
Emerson divide o quarto com quatro garotos; um deles também fica amarrado (Foto: Michelle Farias/G1)Adolescente divide o quarto com quatro garotos; um deles também fica amarrado. (Foto: Michelle Farias/G1)
O Estado não dispõe de nenhuma unidade de saúde especializada em autistas, mas apoia as unidades municipais e privadas. De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), uma portaria publicada em 2011 estabeleceu que esse tipo de atendimento é de responsabilidade das prefeituras. "Nós prestamos consultorias e capacitamos os profissionais. Não temos nenhum centro específico para atender a essas pessoas, esse tipo de atendimento é de responsabilidade do Município", diz o gerente de Saúde Mental de Alagoas, Berto Gonçalo.
De acordo com assessoria de comunicação da Sesau, a Rede de Atenção Psicossocial do Estado de Alagoas deve incluir novos serviços para, a partir de 2015, atender a pessoas autistas junto à família e comunidade e de maneira integral.
Em Maceió, segundo a psicóloga Silvana Alcântara, da coordenação de Saúde Mental da prefeitura, oito instituições são credenciadas para atender a pessoas com autismo, mas apenas três oferecem tratamento diferenciado: dois Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) e a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), que inaugurou em abril deste ano o Centro Unificado de Integração e Desenvolvimento do Autista (CUIDA). As outras unidades são ONGs que possuem convênio com o Município.
"Reconheço que o atendimento não é ideal, mas essa realidade não é apenas em Alagoas, é em todo o Brasil. O município tem convênios com ONGs, mas é preciso mais locais para atender a todos os casos", avalia a psicóloga. Para quem tem autismo, cada minuto é significativo. Quando o diagnóstico é tardio, a doença piora e fica muito complexa a intervenção. Quando o diagnóstico é fechado, é possível procurar atendimento na rede pública, mas a demora nesse atendimento varia de caso para caso", afirma a psicóloga.
O atendimento a esses pacientes é composto por psicólogos, psiquiatras, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, entre outros. Entretanto, o Município não soube informar a quantidade exata de profissionais na área ou mesmo o número de vagas disponíveis e a demanda do setor. Questionada sobre possíveis melhorias no atendimento a esses pacientes, a Secretaria Municipal de Saúde também não informou se havia algum planejamento neste sentido.
G1 visitou algumas unidades que oferecem tratamento específico a autistas. De acordo com a psicóloga e coordenadora geral do CUIDA, Fabiana Lisboa, o Centro conta com 28 profissionais divididos em assistente social, técnicos em enfermagem, psicólogos, terapeuta ocupacional, terapeuta de integração sensorial, fisioterapeuta, fonoaudiólogos, pedagogos, educador físico, musicoterapeuta, nutricionista, psiquiatra e neuropediatras.

O Centro atende a cerca de 100 pacientes por mês e aposta em uma terapia com objetivos bem definidos e em sintonia com médicos, terapeutas, família e escola, utilizando métodos específicos para o transtorno do espectro autista. O CUIDA funciona hoje com a sua capacidade máxima de pacientes, mas quem quiser pleitear uma vaga, pode entrar com o serviço social da APAE pelo telefone (82) 3435-1461.
Crianças com autismo são assistidos pela AMA (Foto: Michelle Farias/G1)Crianças com autismo faz atividade em associação que oferece tratamento. (Foto: Michelle Farias/G1)
Na Associação dos Amigos dos Autistas (AMA-AL), o principal problema apontado do tratamento na rede pública é a precariedade do sistema e a quantidade de vagas disponíveis. “Eu tenho um filho autista e senti na pele a falta de especialização. Às vezes, não é nem por má vontade, é porque a qualificação é muito cara. Sentindo a necessidade de um atendimento específico, fundamos a AMA. Tudo que temos aqui são os pais que trazem e bancam, porque não encontramos na rede pública”, afirma a presidente da associação, Mônica Ximenes.
Os pais são os primeiros a notar que alguma coisa está diferente com o filho, como um gesto não correspondido ou a falta de reação a um estímulo. Outras vezes, quem percebe que há algo errado são parentes, amigos ou professores. “Quem dá o diagnóstico do autismo é um psiquiatra e na rede pública há poucos, por isso muitos pais sofrem sem saber o que o filho tem. Justamente por falta de qualificação, muitos profissionais não fecham o diagnósticos e enchem as crianças de remédios”, alerta Mônica.
Atividades em grupo desenvolvidas na AMA (Foto: Michelle Farias/G1)Atividades em grupo desenvolvidas na AMA (Foto: Michelle Farias/G1)
A diretora pedagógica da AMA, Silvia Costa Souza, tem um filho de cinco anos com autismo. Ela conta que morava na cidade de São Miguel dos Campos, mas teve que procurar atendimento específico em Maceió na tentativa de dar um serviço de qualidade para o filho. “Tive que procurar médicos fora e foi quando o meu filho foi diagnosticado. Soube que em Maceió tinha a AMA e não pensei duas vezes. Aqui nosso atendimento é individualizado, cada caso é pensando é bem planejado. Trabalhamos com os nossos filhos, para que eles tenham autonomia”, afirma.
Segundo Sílvia, as atividades específicas e direcionadas são fundamentais para que as pessoas com autismo conquistem essa autonomia. “Para que elas aprendam a comer de garfo e faca, uma atividade comum para crianças normais, aqui é preciso vários dias de repetições para a criança de fato aprender", diz.
Aplicativo 
Estudantes e pesquisadores da Instituto Federal de Alagoas (Ifal) criaram um aplicativo para tablets direcionado a crianças que tem espectro autista. O ABC do Autismo é um jogo baseado em estudos de psicolinguística criado para facilitar a aprendizagem de crianças e jovens. Segundo o instituto, o aplicativo já foi apresentado em feiras de informática e teve boa aceitação – já teriam sido mais de 10 mil downloads na loja virtual Google Paly, onde está disponível para plataformas Android.

“São atividades que as crianças podem formar palavras, reconhecer objetos e animais. Ele teve uma aceitação muito grande e está sendo um ótimo aliado no aprendizado. Existem outros aplicativos que estão sendo desenvolvidos por alunos do Ifal para pessoas autistas e pessoas com dificuldades de aprendizado”, afirma a professora do instituto, Mônica Ximenes.
Fonte: G1

sábado, 11 de outubro de 2014

Como animais podem ajudar na terapia de pacientes com autismo e depressão



Seu cão, gato, coelho ou periquito pode lhe ajudar a superar momentos de extrema tristeza – mas eles também ajudam pacientes com depressão, autismo e deficiência mental por meio da TAA, a Terapia Assistida por Animais

Como animais podem ajudar na terapia de pacientes com autismo e depressão Reprodução/Iris Grace Paintings




A gata Thula auxilia no tratamento de Iris, uma menina de quatro anos diagnosticada com autismo na Grã-BretanhaFoto: Reprodução / Iris Grace Paintings
Muitas vezes, o maior conforto em momentos de dificuldade vem de nossos animais de estimação. Seja com aquele olhar de quem nos entende (todo dono de bicho jura de pés juntos que o animal "entende tudo o que ele diz", não é?), com uma festinha ou um ronronar, os pets são responsáveis em grande escala por fazer de seus donos, com sua parceria e amor inabaláveis, pessoas mais felizes.
É por isso que, muitas vezes, o auxílio dos bichinhos é procurado em momentos de depressão ou em ataques de fobia. Para crianças com autismo e necessidades especiais, cães, coelhos, calopsitas e outras espécies de melhores amigos do homem são coterapeutas na hora de estimular vínculos afetivos. Com os idosos, eles animam o ambiente e dão uma dose extra para os habitantes de casas de repouso e residenciais geriátricos pelo mundo afora.
Na última semana, muito se ouviu falar da história de amizade entre a gatinha Thula, da raça Maine Coon, e a menina Isis, de quatro anos, diagnosticada com autismo. Segundo os pais da garota, ela se recusava veementemente a usar roupas. Com a chegada de Thula à casa da família em Market Harborough, na Grã-Bretanha, a menina começou a se vestir e, discretamente, começou a ser mais verbal. Como? Conversando com a gata.
Segundo a pet terapeuta Karina Schutz, os animais podem despertar empatia a tal ponto de fazer com que pacientes diagnosticados com autismo ou depressão deem grandes passos em relação às suas doenças:
— Suponha que uma pessoa com depressão adquira um animal de estimação. O que esse animal vai fazer? Ele vai fazer com que a pessoa tenha que dar cuidado ao animal. Se tu tiver que dar comida, por exemplo, é responsabilidade tua. Ele não vai viver sem ti. Tu vais te sentir importante pelo simples fato de ter alguém para cuidar. Tu podes até ter um filho e ter responsabilidade sobre ele, mas a diferença que desperta, o carisma que desperta do animal para a pessoa é diferente, porque o filho discute com a pessoa e o animal não te julga, acaba te amando incondicionalmente. 

Projeto utiliza cães de rua para terapia de idosos em asilos
Assim como a gatinha Thula "auxilia" Iris com sua pintura e com suas aulas, os animais têm o poder de estimular as funções sociais, diz Karina:
— Muitas vezes, tu utilizas um animal para trabalhar com uma pessoa. Para fazer com que essa pessoa leve o cachorro para passear na rua, isso ajuda a pessoa que tem depressão, porque ela acaba saindo de casa, indo para a rua, colocando o animal dela num parque, acaba fazendo amizade com outras pessoas que tenham cães. O animal é um grande estimulador das funções sociais, das habilidades sociais do ser humano.
Porta entreaberta para os animais em hospitais
No entanto, nem todas as pessoas que poderiam se beneficiar da Terapia Assistida por Animais (TAA), como é chamada, podem ter acesso a ela. Os animais ainda são barrados na maioria dos ambientes hospitalares do Brasil. O terapeuta pode trabalhar com animais em consultórios particulares, mas sua entrada em hospitais é vetada. Em Porto Alegre, nenhuma instituição permite o trabalho com animais terapêuticos e nem a entrada dos animais de estimação dos internados, nem aqueles em unidades semi-intensivas. No Estado, o Hospital Centenário, em São Leopoldo, e o Hospital Universitário de Pelotas já adotam a prática, mas a TAA ainda engatinha no país.
Em âmbito federal, um projeto de autoria do deputado Giovani Cherini tramita na Câmara com o propósito de habilitar os hospitais que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a disponibilizarem a TAA a seus pacientes. No entanto, a causa ainda espera seu paladino na política, para que mais histórias como a de Isis e Thula possam acontecer não apenas em casas, mas em estabelecimentos de saúde no país inteiro.






sábado, 4 de outubro de 2014

'Treinar' pais de criança autista reduz sintomas do transtorno

Psiquiatria -

'Treinar' pais de criança autista reduz sintomas do transtorno.

Pesquisa demonstrou eficácia de método que ensina os pais a estimular o desenvolvimento de bebês com sintomas de autismo

Autismo: Ensinar pais a estimular linguagem, atenção e aprendizado das crianças ajuda a reduzir sintomas
Autismo: Ensinar pais a estimular linguagem, atenção e aprendizado das crianças ajuda a reduzir sintomas(Thinkstock/VEJA)
Em um novo estudo, pesquisadores concluíram que um determinado tratamento, aplicado nos primeiros anos de vida de um bebê com sinais de autismo, pode melhorar seu desenvolvimento e reduzir os sintomas do transtorno durante a infância. A terapia, no entanto, não é direcionada à criança, mas sim aos seus pais, que passam por uma espécie de treinamento para que estimulem a comunicação dos filhos.
O método testado pela pesquisa foi o Infant Start, desenvolvido na Universidade da Califórnia em Davis, Estados Unidos. Nele, pais de bebês com autismo aprendem formas de estimular a comunicação, a atenção, o aprendizado, a linguagem e a interação social dos filhos.
O estudo, publicado nesta terça-feira, contou com a participação de pais de sete crianças de 6 a 15 meses de vida que apresentavam sintomas relacionados ao autismo, como pouco contato visual, repetição de determinados movimentos e baixa disposição para a comunicação. Os pais, junto com os bebês, passaram por doze sessões de treinamento e, depois, foram acompanhados durante seis meses pelos pesquisadores para que continuassem seguindo o método corretamente.
As crianças voltaram a ser avaliadas dois e três anos após o início do estudo. O desenvolvimento delas foi comparado ao de outras com características diversas. Entre elas, crianças com autismo que só receberam tratamento após os três anos de idade e crianças sem o transtorno.
Segundo a pesquisa, seis das sete crianças que participaram do estudo chegaram aos três anos de idade com o desenvolvimento do aprendizado e da linguagem semelhante ao de crianças sem autismo. “A maioria das crianças com autismo nem ao menos recebeu o diagnóstico da doença nessa idade”, diz Sally Rogers, professora de psiquiatria e ciências comportamentais da Universidade da Califórnia em Davis e coordenadora do estudo.
O estudo, portanto, sugere que começar o tratamento de crianças com autismo de forma precoce diminui os problemas de desenvolvimento ao longo da infância. No entanto, como foi feito apenas com sete crianças, as descobertas precisam ser confirmadas por pesquisas maiores. Mesmo assim, a equipe considera que as conclusões foram importantes, pois mostraram uma redução significativa dos sintomas do transtorno nos primeiros anos de vida.
Fonte na íntegra: veja.abril.com.br